Extensa reportagem da jornalista Graça Henriques, no Diário de Notícias, sobre as sequelas da Guerra Colonial nos filhos dos ex-combatentes com Stress de Guerra, feita com utentes da Associação APOIAR. Testemunhos corajosos dos filhos de uma geração destruída pela guerra. (Para ler a reportagem na integra têm de se registar, de forma gratuita, no site do DN)
As piores palavras que ouvi na minha vida foram ditas pela boca do meu pai. Chamou-me de tudo, as coisas mais asquerosas que se possa imaginar.” Entre os muitos insultos que o pai lhe dirigiu e as tareias que lhe deu, há uma coisa que Diana não esquece: “Um dia disse-me ‘podes sair daqui e dizer que te fiz tudo, só não foste violada’. Disse-me isto na cara.”
Diana não esquece, mas perdoa. Perdoou o pai na morte – porque, apesar de ter tanto medo dele que chegava a desmaiar só pela sua presença, e de ter desenvolvido uma infeção no estômago e nos intestinos porque as horas das refeições eram as piores, gostava muito dele. Era o seu pai. O melhor pai do mundo até aos 11 anos, diz. O homem carinhoso que tratava dela e a levava à escola quando a mãe estava a trabalhar. E perdoou-o porque teve coragem de lhe dizer tudo, de bom e de mau. Que ele a maltratava, que era mau, mas também que, ainda assim, o amava.