Por: Afonso Paixão (Psicólogo Clínico)
A importância da comunicação ao longo da vida
A comunicação assume um papel por demais importante no envelhecimento saudável e na nossa vida, sendo essencial para a nossa sobrevivência (Heine & Browing: 2002). Pensar o dia-a-dia sem que, de alguma forma, tenhamos de comunicar com os outros, é praticamente impossível. Desde as tarefas de lazer ao trabalho, são incontáveis as tarefas cuja concretização se ancora nas transações de informação.
Pensar o dia-a-dia sem que, de alguma forma, tenhamos de comunicar com os outros, é praticamente impossível.
Comunicar vai além da troca de mensagens
Comunicar não se pode reduzir apenas à mera transmissão de informação (feita pelo emissor), e à respetiva descodificação da mensagem (pelo receptor). O acto de comunicar vai muito mais além, sendo um instrumento fundamental para o ajustamento psicossocial — quer no modo intrapessoal (conversas na nossa cabeça), quer na modalidade interpessoal, envolvendo os outros.
Contribui assim, se de forma eficaz e funcional, para manter o sentido de identidade, para aliviar a solidão e até para diminuir a incidência de psicopatologia, como a depressão e ansiedade (Yorkston, Bourgeois & Baylor, 2010).
A comunicação como ferramenta de ligação social
Falta ainda falar da função da comunicação em unir as pessoas do seu meio, permitindo assim uma afiliação social, assim como satisfazer as necessidades relacionais.
Assim, as potencialidades da comunicação são imensas, não sendo de estranhar a necessidade que as pessoas têm de ouvir e de ser ouvidas seja uma constante ao longo do ciclo vital.
Linguagem e envelhecimento cognitivo
Na verdade, a linguagem constitui o suporte do pensamento, funcionando assim como antecâmara da acção (Lima Santos & Gomes, 2004).
Das várias funções cognitivas, a linguagem é a que menos sofre com o processo de envelhecimento (Clark-Cotton, 2007). De facto, a maior parte dos adultos comunica de forma eficaz ao longo de toda a vida.
Existem aspectos da inteligência, como todos os conhecimentos adquiridos ao longo da vida, que permanecem mais ou menos estáveis ao longo da vida.
Reserva cognitiva e envelhecimento saudável
Torna-se assim pertinente pensar: porque não sofre a linguagem tanto como a grande maioria das habilidades cerebrais?
Stern (citado por Ansado 2013) explica que o facto de muitos aspectos se manterem estáveis advém da habilidade de optimizar o desempenho mental. Esta capacidade é actualmente apelidada de reserva cognitiva, sendo que o nosso cérebro criaria novas redes neuronais com o avançar da idade e do conhecimento.
Alterações na comunicação na terceira idade
É importante não esquecer que, apesar de a maior parte da nossa capacidade linguística permanecer inalterada, é possível experienciar a perda de algumas habilidades de comunicação. Por exemplo: dificuldade em encontrar uma palavra ou nome.
Alterações físicas, psicológicas e sociais caracterizam o processo de envelhecimento, influenciando sobremaneira a maneira de comunicar entre as pessoas (Heine & Browing, 2002). As alterações associadas ao envelhecimento, como a perda sensorial, redução da velocidade de processamento, perda de identidade laboral, diminuição do poder e influência sobre os outros, afectam de forma muito variável o funcionamento da pessoa.
Sendo a população idosa, provavelmente, o grupo mais heterogéneo na nossa sociedade.
Fatores que afetam a linguagem na velhice
Os factores que influenciam as alterações da linguagem são de quatro ordens: alterações sensoriais, neurobiológicas, cognitivas e psicossociais.
Alterações sensoriais no envelhecimento
Por alterações sensoriais estamos a referir-nos às perturbações da visão e audição, que em muito afectam a capacidade de comunicar no dia-a-dia e provocam alguns conflitos sociais, sensação de depressão, aumentando o isolamento e diminuindo a auto-estima.
Alterações neurobiológicas
Por alterações neuro-biológicas, estou a referir-me ao declínio da massa branca do cérebro, que parece estar associado a um baixo desempenho do funcionamento executivo, diminuição da velocidade de execução e memória implícita (Clark-Cotton, 2007).
Alterações cognitivas e memória
As alterações cognitivas, mais concretamente a memória, são o processo mais afectado pelo envelhecimento. Observa-se um declínio gradual da memória de trabalho e de armazenamento temporário da informação (Ansado, 2007).
Alterações psicossociais e risco de isolamento
Já em relação às alterações psicossociais, é importante salientar que ao envelhecer a pessoa perde muitas vezes o seu papel na sociedade e na família, diminuindo as oportunidades de comunicação e interação social. Isso pode colocar as pessoas em risco de isolamento, potenciar o sentido de perda de identidade e baixar a auto-estima (Touhy, 2011).
Comunicação, identidade e envelhecimento saudável
Assim, é importante pensar no significado que o acto de comunicar tem na nossa sociedade e na nossa vida. Para que seja possível um envelhecimento saudável, é necessário aumentar a nossa esperança de vida — e, sobretudo, a qualidade da mesma.
Para sobreviver no século XXI, a ginástica da comunicação parece ser um pilar importante para uma vida com qualidade.
Bibliografia: Ansado, J, 2013. The adaptive aging, brain: Evidence from preservation of communication Abilites with are. European Journal of Neuroscience, 1887-1895. Clark-Cotton 2007, Language and Communication in aging. In, J. E. irren, Encyclopedia of Gerentology, London. Elsevier.
Heine, C. & Browning 2002, Communication and psychosocial consequences of sensory loss in older adults: Overview and Rehabilitation directions. Disability and rehabilitation.
Touhy, t 2011. Communication with the older adults Human needs and nursing responses, St. Louis: Elsevier/Mosby Yorkston, Communication and Aging, Physical Medicine Rehabilitation Clinics of North America. Nº21. 309-319.