A APOIAR abordou as várias facetas do trauma na Gulbenkian

STRESS DE GUERRA // A Fundação Calouste Gulbenkian recebeu  o Encontro Trauma e Stress de Guerra: uma Evolução multidisciplinar” no dia 6 de Novembro. Este encontro organizado pela APOIAR reuniu especialistas de diversas áreas que abordaram várias facetas do trauma e do stress de guerra. O ex-deputado do CDS João Rebelo encerrou o encontro e deixou o aviso. Muitos políticos da nova geração não querem saber dos ex-combatentes.
// Por: Humberto Silva

A sala 1 da zona de congressos da Fundação Calouste Gulbenkian foi palco de um encontro sobre o trauma e stress de guerra que juntou especialistas de várias áreas e de todo o país para falarem de uma maneira abrangente sobre o tema do stress pós traumático.

Este evento serviu também para assinalar o encerramento das comemorações do 25º aniversário da Associação APOIAR e contou com a presença do psiquiatra e fundador da APOIAR, Afonso de Albuquerque, para fazer a alocução de abertura deste encontro. O psiquiatra lembrou a sua experiências na Guerra Colonial e as dificuldades do reconhecimento do stress de guerra no regresso desses soldados a Portugal.

As mesas da manhã contaram com vários técnicos conhecidos na APOIAR que abordaram temas mais clássicos do stress de guerra.

 Afonso Paixão, psicólogo clínico na APOIAR recordou em que se baseia a doença e a forma como a APOIAR aborda terapeuticamente os seus utentes.  Nuno Duarte, Psicólogo Clinico que trabalhou muitos anos com famílias na APOIAR, falou de como os filhos e as mulheres são afectadas pelo trauma dos ex-combatentes e de como é possível uma terapia.

Após um pequenino intervalo foi tempo de se abordar como o stress de guerra impactou a vida dos ex-combatentes. Foi a vez de Ana Carolina Costa, assistente social e mestranda em Gerontologia Social falar acerca do seu trabalho de mestrado que investiga o impacto que a Guerra Colonial teve no envelhecimento do soldados que nela participaram e de como isso afectou a forma como envelhecem. Manuel Vicente da Cruz, clínico Geral na APOIAR falou acerca da sua experiência com os ex-combatentes e de como eles vivem também com as doenças que afectam a maioria da população e como elas têm ou não um peso adicional pelo facto de terem stress de guerra.

Na parte da tarde o encontro contou com a colaboração do Ten. Coronel Garcia Lopes, do Centro de Psicologia Aplicada do Exército (CPAE), que explicou aos presentes como é que o CPAE prepara e apoia psicologicamente as Forças Nacionais Destacadas (FND) para as operações de paz em cenários que muita vezes são de conflito permanente, como é o caso da República Centro Africana.

A forma como os soldados das FND também são afectados pelo trauma de guerra foi o tema abordado por António Correia, psicólogo na Liga Dos Combatentes na mesa seguinte. António Correia explicou que também existem inúmeros casos de stress pós traumático nos militares portugueses das forças de manutenção de paz e exemplificou alguns casos que acompanhou.

O trauma não é exclusivo nos militares e foi essa perspectiva que o psicólogo da Cruz Vermelha, Randdy Ferreira veio apresentar com uma apresentação sobre a intervenção psicológica em cenários de catástrofe. O psicólogo falou de como a CVP interveio em tragédias como os incêndios de Pedrógão e de como as equipas ajudam as vítimas a lidar com o trauma.

A forma como o stress de guerra vive no imaginário dos filhos foi o tema de José Miguel Ribeiro: realizador da curta metragem de Animação: Estilhaços. Uma curta metragem de animação que retracta a forma como um filho também é afectado pela guerra que afectou o pai. O realizador falou da sua experiência enquanto filho de um ex-combatente e artista e como transpôs essa visão para o cinema de animação.

Para encerrar o encontro, o Ex-deputado do CDS João Rebelo,  e um dos deputados que levou o reconhecimento do stress de guerra na lei ao Parlamento, veio falar de como se sentiu honrado pelo facto de poder ter colaborado neste importante reconhecimento para os ex-combatentes.

Em vias de despedir-se de uma carreira de deputado de mais de vinte anos, João Rebelo não quis deixar de avisar que as novas gerações eleitas para o Parlamento não têm o mesmo interesse nas questões dos ex-combatentes e pode-se correr o risco de  ter uma classe política que genuinamente só esteja à espera que o problema dos ex-combatentes se resolva por si.

O encontro teve uma sala cheia com dezenas de participantes de todo o país e contou com a presença da comunicação social com eco em reportagens do Público, Jornal de Notícias, SAPO, entre outras que reproduziram a cobertura da agência Lusa. Reportagens adicionais no JN e noutros órgãos de comunicação serão também publicadas.

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