PPST e Famílias

BREVE GUIA PARA FAMILIARES DE VÍTIMAS DE STRESS DE GUERRA

Por: Susana Oliveira (Psicóloga Clínica-APOIAR)

“Procurar ajuda não é sinal de fraqueza mas sim uma atitude sensata”

Se tem algum familiar ou amigo que sofre de Perturbação de Stress Pós-Traumático (Stress de Guerra) ou de outros problema relacionados com a vivência da guerra é provável que se sinta desamparado(a) e com o sentimento de estar a viver uma situação única. No entanto, existem muitas pessoas e famílias na mesma situação e existe tratamento para os ex-combatentes e apoio para as suas famílias, de forma a terem melhor qualidade de vida

Eis algumas situações mais comuns e respectivas estratégias para lidar melhor com a perturbação psicológica do ex-combatente

 

EVITAR FALAR NO ASSUNTO
É comum os familiares dizerem ao ex-combatente para esquecer a guerra e continuar a vida, Além de não ajudar o ex-combatente a sentir-se melhor, só vai fazer com que ele se sinta incompreendido e se isole.
 
  • Ouça atentamente o que o ex-combatente quer partilhar (o seu sofrimento, as suas memórias da guerra) e encoraje-o a procurar ajuda médica e psicológica.

ACONSELHAR A NÃO VER NADA QUE FAÇA LEMBRAR A GUERRA

É comum os familiares dizerem ao ex-combatente para não verem as fotos do tempo da tropa ou os programas na televisão sobre assuntos relacionados com a guerra porque isso "vai fazer-lhe mal". É natural que perante uma situação que lhe lembra o acontecimento traumático, o ex-combatente se emocione ou irrite. Pode até acontecer que nos próximos dias se isole ou durma pior, mas isso não quer dizer que ele esteja a piorar da sua doença.

  • Seja paciente e mostre-se disponível para ouvir as suas queixas e angústias.

ACORDAR O EX-COMBATENTE QUANDO ELE ESTÁ A TER UM PESADELO

Por vezes é aflitivo ver o ex-combatente inquieto, aos sobressaltos ou a gritar enquanto está a ter um pesadelo com a guerra. É comum as esposas acordarem os seus maridos para terminarem aquele sofrimento.

  • Lembre-se que ele está apenas a sonhar e que não vai acontecer-lhe nada de mal. Acordá-lo só vai aumentar a probabilidade dos pesadelos continuarem. É preferível sair da cama e ir dormir para outro local, de forma a conseguir dormir mais tranquilamente.

FICAR ZANGADO(A) E CRÍTICO(A) QUANDO O EX-COMBATENTE ESTÁ IRRITADO

Por vezes o ex-combatente está tão irritadiço que explode por tudo e por nada. Muitas das vezes essa irritabilidade está relacionada com as memórias intrusivas e persistentes da guerra e não com a esposa ou com o filho.

  • É preferível nessas alturas não lhe dizer nada e aguardar que ele acalme.

INSISTIR PARA QUE O EX-COMBATENTE SAIA E CONVIVA MAIS COM AS PESSOAS

O ex-combatente pode procurar o isolamento por ter dificuldade em apreciar as conversas das pessoas, por não conseguir divertir-se como antigamente, por ter receio em irritar-se ou para evitar ambientes barulhentos. Realmente os afectos podem ficar afectados após a vivência de um acontecimento traumático (como a guerra) e toma-se mais difícil para o ex-combatente sentir alegria, amor e prazer

  • Procure negociar com o ex-combatente as saídas de forma gradual (exemplo: em vez de saírem a tarde toda saírem apenas 2 horas. Lembre-se que evitar estar com as pessoas não é para irritá-lo(a) mas sim porque é difícil e frustrante estar num local onde não se consegue sentir alegria como as outras pessoas.)

FICAR IRRITADO(A) E ZANGADO(A) QUANDO O EX-COMBATENTE SE ESQUECE DE ALGUMA TAREFA QUE LHE PEDIU

Após a vivência de uma situação traumática a concentração e a memória a curto prazo podem ficar afectadas. O esquecimento não é propositado e uma atitude critica pode frustra-lo ainda mais.

  • Pode ajudar o ex-combatente incentivando-o para escrever as suas tarefas num papel ("lembretes") e colocá-lo num sítio visível (exemplo: porta do frigorífico, porta da casa de banho, mesinha de cabeceira).

O que deve fazer:

APRENDER MAIS SOBRE A DOENÇA E SOBRE O TRATAMENTO
Aprender que determinadas reacções do ex-combatente são próprias da sua perturbação psicológica ajuda-o(a) a sentir-se menos frustrado(a) e a lidar melhor com esses comportamentos.

  • Pode procurar informação na Internet, junto do seu médico ou do médico e do terapeuta do ex-combatente.

O TRATAMENTO DO EX-COMBATENTE
Durante o tratamento, o terapeuta vai ajudar o ex-combatente a viver melhor com as memórias da guerra. Este processo é doloroso e pode acontecer que no início do tratamento ele se sinta mais irritadiço ou inquieto.

  • O suporte da família é fundamental nesta fase.

PROCURAR AJUDA MÉDICA E PSICOLÓGICA SE NECESSÁRIO
Cuidar de um doente, vítima de uma situação traumática como a guerra, pode ser muito desgastante e emocionalmente perturbador para as famílias.

  • Procure ajuda médica e psicológica para lidar melhor com esse sofrimento