Por: Maria Teresa de Melo*
Amor em tempos de guerra
História de vida de um ex-combatente da Guerra Colonial
Trabalho Individual Unidade Curricular: Sociologia da Vida Quotidiana
Fundamentos para a escolha do Tema
Celebraram-se este ano 40 anos sobre o 25 de Abril de 1974, data em que o regime político ditatorial do Estado Novo foi deposto por intervenção militar.
A instauração da democracia e o fim da Guerra Colonial foram das primeiras transformações resultantes da mudança do regime político. Outras se seguiram: a liberdade de expressão e de voto; o processo de descolonização; o acesso generalizado ao ensino; a liberalização do papel da mulher na família, na profissão e na sociedade; as reconfigurações familiares e as redefinições tanto do divórcio como do casamento; a adesão à Comunidade Europeia; a liberalização do mercado e a introdução da moeda única; o acesso ao emprego e o desemprego, apenas para nomear alguns dos acontecimentos decisivos para as alterações sociais vividas em Portugal nas últimas décadas.
É pois essencial para os portugueses e para a sociedade portuguesa que factos com repercussões tão marcadas no espectro político, económico, cultural e social sejam preservados na memória colectiva de Portugal e que as motivações deste movimento militar se mantenham na forma de viver a/em liberdade, na vida em democracia e nas conquistas sociais. “As pessoas reconstroem a informação tentando adaptá-la aos seus esquemas cognitivos e, por isso, há alguma probabilidade de serem esquecidas ou distorcidas as informações que não “encaixam” nesses esquemas. Para Bartlett (1932), uma das principais características da memória é o esforço na procura de sentido, ou seja, a tentativa de tornar a informação mais “lógica” e “coerente” com os quadros de referência culturais ou esquemas sociais vigentes. “Este esforço interpretativo leva as pessoas a fazerem inferências sobre o que deveria ou não ter ocorrido, em vez de reterem e recordarem a informação de forma passiva. […] A memória colectiva tem funções identitárias, assegurando a identidade e o valor do grupo, e funções normativas, sendo uma lição a transmitir, prescrevendo os comportamentos dos membros do grupo” (Dias, 1999: 79-87).
Introdução
A revolução de Abril de 1974 pôs fim à Guerra Colonial[1] que colocou em confronto as Forças Armadas Portuguesas e os Movimentos de Libertação de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique, então províncias ultramarinas portuguesas. “Salazar privilegiaria sempre a vertente militar para resolver as questões de soberania que se lhe colocassem no âmbito colonial; de facto, ordenara a resistência a todo o custo, sem olhar aos sacrifícios materiais e humanos que isso acarretaria.”[2]
As perspectivas sobre a Guerra Colonial são diversas e não necessariamente convergentes. “A Guerra Colonial, para além de constituir um momento fundador da realidade sociopolítica do Portugal contemporâneo, foi crucial para as independências das suas antigas colónias em África” (Rosa et al., 2012: 3). Contudo, é outro o prisma que iremos abordar: o do ex-combatente e o dos efeitos da guerra sobre o que é/quem é actualmente e o seu percurso de vida. “Le corps propre de chacun doit se conformer avec plus ou moins d’amplitude et de liberté au corps social […] Le corps humain est façonné en fonction de ressentir, vivre et partager des émotions” (Jeffrey, 2011: 24).
Objectivos gerais da pesquisa
A finalidade deste trabalho de pesquisa é analisar o percurso de vida de um ex-combatente após dois anos em missão na Guiné. O estudo incidirá sobre os anos de 1967-1968 que correspondem ao período da comissão militar.
Objectivo específico
Seleccionámos como objecto de estudo a análise das relações entre os efeitos do stress pós-traumático; a capacidade de reorganização pessoal; a reintegração social (papel da sociedade: tratamento, oportunidades de trabalho, etc.) e a qualidade de vida (consciência de regras sociais/práticas sociais vs. resultados atingidos) de um ex-combatente da Guerra Colonial.
Invocando os pressupostos da análise qualitativa, optámos por desenvolver uma pesquisa que nos permitisse compreender a inter-relação entre a doença, o papel individual e a intervenção sociedade/ex-combatente na recuperação e socialização deste indivíduo.
[1] A Guerra Colonial teve início em 1961 e terminou em 1974, com a revolução do 25 de Abril
[2] Guerra Colonial. Fonte: Infopédia em http://www.infopedia.pt/$guerra-colonial>
*Discente: Nº 54114 Turma: S-C2-PL Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa / Universidade de Lisboa
(Este trabalho em Sociologia da Vida Quotidiana foi feito com a colaboração do associado da APOIAR
Mário Vitorino Gaspar.)