Compreender a Ansiedade

Por: Susana Oliveira (*)

Todos nós já experienciámos ansiedade, mesmo que num grau pequeno, seja antes de ir fazer um exame, ou a acordar a meio da noite com um barulho estranho na rua. De facto, facilmente a pessoa identifica que está ansiosa, mas nem sempre consegue exprimir nem compreender o que está a sentir. Sensações como tonturas, visão enevoada, formigueiro no corpo, músculos rígidos quase paralisados, sensação de falta de ar e nó na garganta podem fazer parte da ansiedade.

Mas afinal o que é a ansiedade? Porque é que ficamos ansiosos?

Cientificamente, a ansiedade imediata ou a curto prazo é denominada de resposta de luta-fuga, uma resposta ao perigo ou à ameaça. Nos nossos antepassados, no tempo das cavernas, era vital que quando o homem se visse confrontado com algum perigo tivesse uma resposta automática, levando-o a agir imediatamente, ou seja, a atacar ou a fugir. Mesmo hoje, no mundo onde vivemos, este é um mecanismo necessário. Imagine que está a atravessar a rua quando, de repente, um carro a grande velocidade vem na sua direcção. Se não sentisse nenhuma ansiedade, provavelmente teria uma resposta mais lenta e seria atropelado. O mais provável seria que a sua resposta de luta-fuga se desencadeasse e o fizesse correr para um local onde estivesse a salvo. Assim, o objectivo da ansiedade é proteger o organismo e nunca prejudicá-lo.

O que é que acontece quando percepcionamos perigo?

Quando um perigo é percebido ou antecipado, o cérebro envia mensagens à secção de nervos, chamada de sistema nervoso autónomo. Este sistema tem duas subsecções, chamados de sistema nervoso simpático e parassimpático. O sistema nervoso simpático é o sistema de luta-fuga, que liberta energia e prepara o organismo para a acção, acelerando-o, enquanto que o sistema nervoso parassimpático tem por função parar essa activação e levar o corpo a regressar ao seu estado “normal”.

Perante a leitura de perigo, o sistema nervoso simpático é activado e são libertados dois produtos químicos, a adrenalina e a noradrenalina, a partir das glândulas supra-renais nos rins. Estes compostos, são usados como mensageiros do sistema nervoso simpático, de forma a dar continuidade à actividade. Entretanto a actividade do sistema nervoso simpático é cessada de duas maneiras. Os mensageiros químicos (adrenalina e noradrenalina) são eventualmente destruídos por outros químicos existentes no organismo ou o sistema nervoso parassimpático é activado e repõe uma sensação de relaxamento.

A ansiedade não pode continuar indefinidamente ou aumentar até níveis que prejudiquem o organismo, daí que o sistema nervoso parassimpático será sempre activado para restaurar a sensação de descontracção. Digamos que o sistema nervoso parassimpático é um protector existente no organismo, impedindo que o sistema nervoso simpático se exceda. Os mensageiros químicos levam algum tempo a serem completamente destruídos, o que pode c

ontribuir para que a pessoa se sinta excitada ou apreensiva após o perigo ter passado. Isto é perfeitamente natural e inofensivo e é uma função adaptativa.


Quando a resposta de luta-fuga é activada, o sistema nervoso simpático produz alguns sintomas como o aumento do ritmo cardíaco, as mudanças ao nível da corrente sanguínea, uma respiração mais profunda e rápida, um aumento de suor, a dilatação das pupilas, uma diminuição da salivação, uma diminuição da actividade digestiva e uma contracção dos grupos musculares. Trata-se portanto de uma activação do metabolismo do organismo, de modo a prepará-lo para lutar ou fugir. Este processo provoca um grande consumo de energia daí as pessoas sentirem cansaço e falta de forças, podendo surgir comportamentos de agressão ou desejo de fugir. Quando tal não é possível, estes comportamentos poderão ser transformados no bater com os pés, andar de um lado para o outro, ou ficar irritado com as pessoas, mas sempre com o mesmo objectivo: lutar ou fugir.
Como já foi referido, o principal objectivo da resposta de luta-fuga é o de alertar o organismo para a possível existência de perigo e prepará-lo para lutar ou fugir. Por vezes, não se consegue encontrar uma ameaça óbvia ou real, o que leva a pessoa a virar-se para ela própria, pensando algo do género: “se não há nada exterior à minha pessoa que me faça sentir ansioso, há qualquer coisa errada dentro de mim. Devo estar a morrer, a perder a cabeça ou a ficar doido”. Estes pensamentos são compreensíveis mas estão longe da verdade, pois as respostas de ansiedade servem para proteger o organismo e não para o prejudicar.

 

(*Psicóloga Clínica)

Publicado originalmente no nº 62 de Janeiro e Fevereiro de 2010do Jornal APOIAR

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