Por Nuno Mendes Duarte (*)
Quantas vezes, hoje, já levou a atenção ao seu coração? Esta é uma pergunta que lhe pode soar estranha ou, por outro lado, soar-lhe familiar. Não me estou a referir à sua condição cardíaca. Estou a perguntar-lhe se anda preocupado com as recentes manifestações de ansiedade que tomaram conta do seu coração. Como se já não confiasse tanto nele, tivesse perdido um pouco do controlo e o medo de que ele falhe se tenha apoderado de si. Hoje quero falar-lhe de Perturbação de Pânico…
Se fosse descrito em tempo real, provavelmente soaria assim: Alto! Atenção ao coração. Que onda é esta que me percorre? Parece que o ritmo se tornou estranho, descompassado, passado, assustado, destravado… STOP! Quero que ele se acalme, mas ele não parece estar para aí virado. Claro que os pensamentos vêm atrás a empurrar e a minha mente começa a girar, planar, desconfiar, preocupar, catastrofizar… Começou a corrida do meu corpo a querer fugir desta sensação que se cola e se estende como uma manta que prende e, no fundo, que ninguém entende. Quero tentar disfarçar, mas como?
Agora parece que já nem sei respirar. Inspiro ou expiro… ups, o ar não chega, olhem que me falta o ar, este ar que não entra e este ar que sai, mas porque é que o peito teima em apertar… Ai, ai… Que ritmo, que medo, o que é que me está a dar? E mais medo, pensamentos, tormentos e afrontamentos, já sinto o chão a girar. Quero sair, fugir, gritar de onde, para onde, sei lá… daqui para ali… dali para um sítio seguro. Já, já, já não sinto os braços, as pernas, a respiração não chega o coração vai rebentar, a boca parece palha… que loucura, mas isto não pára? Vou morrer? Agora? Mas não tenho aqui ninguém? Morrer agora, ou estarei a enlouquecer… Socorro, quero fugir do meu corpo… Tenho pânico e o meu coração não vai aguentar.
Se já experienciou um ataque de pânico, sabe então do que lhe estou agora a falar. É difícil, incompreensível, e parece vir do nada. Eu sei. Mas garanto-lhe que quando o nosso corpo berra o melhor que temos a fazer é não ignorar, ou pensar que logo passa. Por muito que ainda não perceba porque é que ele berra (e, convenhamos, um ataque de pânico é um berro gigante do seu corpo) a verdade é que seria bom dar-lhe alguma atenção, pois estamos a falar de uma condição clínica que tende a piorar com o tempo.
Vários estudos recentes têm enfatizado a necessidade de controlar os níveis de ansiedade e stress, pois a expressão das emoções passa muito pelo corpo… e, como já dizia o António Variações “quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que paga”. O seu corpo é um veículo extraordinário onde fluem emoções poderosas. Quando não as expressa, ou se coloca em stress, o seu corpo cobra a factura prejudicando, inevitavelmente, o seu coração e colocando-o sob pressão, quando ele poderia estar a relaxar, aproveitando a liberdade de saborear cada batida.
A boa notícia é que pode mimar o seu coração com uma intervenção psicoterapêutica eficaz que reduz os níveis de stress e ansiedade, para que não atravesse situações como a que foi descrita acima.
Uma intervenção integrada entre o seu médico (que se assegura da boa forma do seu coração) e um psicólogo (que se assegura da boa forma da sua ansiedade) consiste na abordagem ideal a uma resolução equilibrada do seu problema.
*(Psicólogo Clínico)
Publicado originalmente no nº 64 de Maio e Junho de 2010 do jornal APOIAR