Por: Nuno Duarte (*)
O que lhe proponho neste artigo é uma simples revisão das escolhas que está a fazer no seu dia-a-dia e uma compreensão mais alargada do impacto destas na sua qualidade de vida… com algum humor à mistura!
A verdade é que nós podemos seguir algumas dicas que parecem trazer consigo alguma sorte, ou uma espécie de luz em dias cinzentos, algum entusiasmo e uma forma diferente de enfrentar as adversidades. Não lhe estou a dizer o que deve ou não fazer. Tenho a certeza que sabe melhor do que eu o que é melhor para si. Simplesmente gostaria que pensasse naquilo que o faz feliz a cada momento (algo que nos faz felizes agora, não nos faz necessariamente felizes mais tarde). As dicas que lhe sugiro adiante não são regras imutáveis, ou segredos mágicos e difíceis de conquistar. Pelo contrário, são apenas pequenas mudanças de comportamento. Não é fácil (não são frases feitas cheias de fantasia dentro), porque são realistas e apenas pretendem recordar o que, de certeza, já sabe: trate de si próprio.
Atenção ao seu sono.
Se passar sem ele ficará cansado. Se tiver demais ficará em letargia. A quantidade certa para si fará com que se sinta bem. Atenção ao que come. A sua máquina (corpo) funciona melhor com alimentação equilibrada (lembra-se da velhinha roda dos alimentos? Use-a!) do que com almoços e jantares saturados de gordura e fast food. Mais uma vez, isto é inteiramente consigo. Tratar de si próprio é exactamente isto – não ter de estar à espera que alguém assegure que vai comer a horas e com qualidade, que se veste confortavelmente, que está apresentável (camisa engomada e sapatos a brilhar!), saudável. É óptimo ser-se adulto, principalmente quando escolhe cuidar de si.
Se grita é porque o seu argumento é fraco.
Existem imensas coisas que o podem fazer gritar, muitas situações em que sente que se perder a calma vai conseguir com que tudo seja feito à sua maneira. Mas, no entanto, está a lidar com seres humanos que também têm os seus sentimentos e gritar nunca se justifica – mesmo que eles comecem primeiro.
Existem duas situações em que as pessoas perdem a calma – a justificada e a manipulativa. A primeira ocorre quando alguém lhe passa com o carro por cima do pé e recusa-se a pedir-lhe desculpa ou admitir que fez algo de errado. Nesta situação é-lhe permitido gritar. A segunda é usar a sua raiva para obter algo que quer, ou berrar porque algo não está a ser feito como queria. Se alguém não está a fazer algo como gostaria ou está a tentar controlá-lo, tem toda a permissão para ignorá-los, ou poderá ser assertivo para controlar a situação – mas não lhe é permitido gritar de volta. Eu sei o que já está a pensar, que existem muitas situações em que gritar parece mesmo apropriado – os filhos ou netos não fazem o que quer; o carro avariou e na oficina estão a demorar uma eternidade a arranjá-lo; os delinquentes da sua rua estão outra vez a escrever nas paredes; assim que chega a uma caixa de supermercado e lhe dizem que já está fechada; alguém que está deliberadamente a fingir que não o percebe “armado em parvo”. E a lista continuaria… Mas, se tiver esta regra “Eu não grito” interiorizada e colada a si, parece que se torna mais fácil. Assim ficará conhecido como o tipo que mantém a calma em qualquer situação. Nós confiamos em pessoas calmas. Podemos contar com as pessoas calmas pois elas colocam os seus argumentos sem nos atacar. As pessoas calmas são admiradas e damos-lhes responsabilidades. As pessoas calmas vivem mais anos.
Mantenha-se jovem
Envelhecermos física e temporalmente é algo que acontece a todas as pessoas. Quando lhe falo em manter-se jovem refiro-me mentalmente e emocionalmente. Assim, o que lhe sugiro é que experimente novas actividades, não a reclamar e a dizer aquelas coisas que sabemos que as pessoas dizem à medida que vão envelhecendo. Porque, de facto, não lhe estou a falar de uma opção segura – estou a pedir-lhe uma mudança recorrente mantendo-se actualizado com o mundo que o rodeia. Manter-se jovem é experimentar novos sabores (já provou comida indiana ou japonesa), novos sítios para ir (já viu o novo museu da cidade ou o jardim mais antigo, ou outras cidades?), novos estilos, ou desafiar tudo o que sempre teve e fez não se contentando e querendo mais conhecimento e experiência. Manter-se jovem relaciona-se com a manutenção de uma visão fresca em relação ao mundo, estando interessado e motivado para a aventura e novas descobertas.
Manter-se jovem é um estado determinado pela sua mente e pela sua vontade.
Mude o que puder mudar, e deixe o resto ser como é
Se a vida é curta, provavelmente o importante é dar atenção ao que consegue controlar e (para não desperdiçar tempo) deixar ir o que não controla. Se alguém lhe pede directamente ajuda, então é algo que pode fazer – ou não, se assim o decidir. Mas, se o mundo inteiro lhe pedir ajuda então poderá fazer muito pouco. O que lhe proponho não é que deixe de se preocupar com o que o rodeia… de alguma maneira é exactamente o contrário. Simplesmente existem áreas da sua vida em que poderá fazer a diferença e outras onde nunca irá sequer mover um milímetro por muito que gostasse.
Se perder tempo a lutar contra coisas que nunca irão ser mudadas, então a sua vida simplesmente passa por si sem que dê por ela. Se, por outro lado, se dedicar pessoalmente a coisas que pode mudar, então a vida torna-se mais rica e preenchida. Curiosamente, quanto mais a enriquece mais tempo parece ter. A verdadeira pergunta é: que influência tem no que o rodeia e que mudança pode efectuar utilizando essa influência?
Na realidade, depressa perceberá que a única verdadeira influência que tem é sobre si próprio. A única coisa que pode mesmo, mesmo mudar é exactamente isso – mudar-se a si próprio. Assim não terá de gastar energia e recursos em coisas sobre as quais não tem nenhum controlo e nenhuma certeza de sucesso. Ao mudar-se a si próprio pode assegurar-se de que existirá um resultado.
(*) Psicólogo Clínico
Publicado originalmente no nº 60 de Setembro e Outubro de 2009 do Jornal APOIAR